Hoje, 30 de janeiro de 2017, a VAIA AO SOL completa 75 anos.
Me lembro bem direitim
O dia, a hora, o local
Do que aqui vou contar
Pra alegrar o pessoal
Uma história engraçada
Que você vai dar risada
Se não rir não é normal.
Fique tranquilo, segure
O Cordel em sua mão
Não trema, não se encabule
Leia alto, use o pulmão
Compartilhe a todo povo
Se quiser, leia de novo
Não se arrependerá não.
A história é a da Vaia
Que pra você vou contar
Aconteceu bem aqui
No Estado do Ceará
Bem na Praça do Ferreira
Eu num tô de brincadeira
Cê tem que acreditar.
A Praça, cê sabe bem
Que fica em Fortaleza
É a mais bela de todas
É lá com toda certeza
O centro da molecagem
Travessura, fuleiragem
Zombaria e artisteza.
Que vaia? Vaia no Sol
Ou ao Sol, fica melhor
Eu vaiei, mamãe vaiou
Vaiou vovô e vovó
Vaiou o rico, o pobre
Vaiou plebeu e o nobre
Quem não vaiou, ficou só.
O motivo? Foi que ele
O astro rei referido
Permitiu uma chuva grossa
Passou três dias escondido
E depois, todo abusado
Quis de volta seu reinado
Ficou com dor no ouvido.
Menino, uma nuvem negra
A cidade escureceu
O dia virou foi noite
Três dias inteiros de breu
O mar emendou com a praia
E o sol levou grande vaia
Quando ele apareceu.
Foi nos mil e novecentos
Ano de quarenta e dois
Em janeiro, dia 30
Eu tava comendo arroz
De tudo tô me lembrando
E pra você tô contando
Setenta anos depois.
O sol disse: – Vou sair
Antes que mais chuva caia
Não esperava, porém
Lá embaixo tal gandaia
Se encabulou e sumiu
O povo se reuniu
E meteu aquela vaia.
– Aparece seu covarde!
Disse um cabra ameaçando
– Des-ce daí se tu é ho-men
Disse um bebo gaguejando
Nunca o sol foi tão xingado
Que ficou acabrunhado,
Depois acabou brilhando.
Era em tempo de guerra
A Segunda Mundial
E em vez de ir pra batalha
Ser morto sem funeral
É serviço mais maneiro
Vaiar o sol trapaceiro
Realmente é mais legal.
Veio gente de todo canto
De caminhão e de pé
Veio Ciço do Juazeiro
Francisco do Canindé
Pra tudo ficar normal
Quem também veio de Sobral
Foi o Bispo Dom José.
Apareceu pescador
Com rede e com anzol
Gente com frio danado
Enrolada com lençol
Mas não deu pra aguentar
E o povo do Ceará
Botou foi quente no Sol.
O Bode Iôiô quando ouviu
Aquela vaia do além
Fugiu logo do Museu
Subiu num vagão do trem
Parou bem no meio da praça
Olhou, berrou, achou graça
O vaiou o sol também.
Quem via tudo e curtia
Era Leonardo Mota
Fumando um charuto grosso
Derrubando uma meiota
Misturada com limão
Caneta e papel na mão
O Leota tudo anota.
Quintino Cunha subiu
Em cima de uma mesa
Fez discurso, sol já posto
Quente, com toda firmeza
Falou pru sol escutar:
“Cê num venha mais frescar
Com o povo de Fortaleza”
Ceará,Terra do Sol
Isso na pele se sente
Não é que seja ruim
Só que aqui tá tão quente
Que às vezes fico a pensar
Parece que o sol está
É se vingando da gente.
Por isso estou aqui
Lhe convidando pra praça
Venha cá se divertir
Venha mostrar sua raça
Vai ter humor de primeira
Vai ter muita brincadeira
Venha se abrir, achar graça.
Lá também vai ter concurso
E vai ter premiação
Para a vaia mais gaiata
Que tiver mais emoção
Vá treinando, ensaiado
Tudo que ver vá vaiando
Não fique de fora não!
E se na Praça passar
Um sujeito amarmotado
Diferente, esquisito
Assim meio atrapalhado
Se alguém ver, se aperceber
O que vai acontecer
É que ele vai ser vaiado.
O direito de vaiar
É próprio do cidadão
Vaia até o time que torce
E o cearense então!
Vaia enterro, vaia queda
Vaia topada em pedra
Vaia político ladrão.